Cogite...

..."O mais importante é aprender a não se perder" p.15. Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas de Robert M. Pirsig

Light My Fire...

sábado, 26 de maio de 2012




           Sabe amigo, as coisas aqui não andam muito bem. Tenho vivido em passos mansos, sem vontade de dedicar àquele tal futuro de que tanto falam, o meu tempo precioso. Mas que desperdiço com vontade em cada gota que evapora da garrafa, em cada faísca que uso pra acender os cigarros por ai.
Sim, só para acender, porque já é do seu conhecimento a minha mania irredutível de acender cigarros. Nunca tragá-los ou fumá-los por prazer de nicotina. Apenas despejar das mãos o rito cheio de energia que me provoca o maior dos prazeres.
Encosto o cigarro no canto esquerdo da boca, fecho o olho direito, empunho as mãos como Johnson fazia com sua gaita, como se também fosse incendiá-la. Procuro por um isqueiro, estilosos como os pseudo zipos ou aqueles que se compra por um trocado na vendinha da esquina. Nunca fósforos, eles dissimulam o cheiro do fumo. Risco a pedra como um ritualístico homem das cavernas a preparar a caça, observo a luz surgindo, as vezes preâmbulo como aqueles postes na rodovia - madrugada de ébrios, outras vezes forte como se surgissem do próprio deus Sol. E um suspiro para libertar a nota lá da gaita... P(r)onto! A energia dos olhos, das mãos, do sopro, quase bio, transfere ao fogo, ao fumo, à fonte. Desvio o olhar, o cheiro se perde e espero até o próximo vicio chegar entre meus dedos.
Sabe amigo, são três horas da madrugada, na programação coruja do rádio toca “light my fire”, abro a bolsa e procuro o isqueiro... Mas só para acender um incenso.

Dayane R. Peixoto - Março/2012