Cogite...

..."O mais importante é aprender a não se perder" p.15. Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas de Robert M. Pirsig

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quinta-feira, 24 de julho de 2014


Eu escolhi pisar nos teus cacos de vidro pelo chão, sem medo de me cortar ou ferir a carne. Eu hoje, não penso no amanhã ou no ontem. Eu penso na próxima palavra que vai vir de você e quais eu devo usar pra te fazer entender que hoje, o que importa é só o hoje. Eu escolhi mastigar seus erros com chocolate amargo pra adoçar meus dias. Fazer amor ao amanhecer pra ter o que pensar quando a noite vier. Eu escolhi te confessar meus medos, te contar minhas histórias e te testar na paciência. Você é, segundo o que eu mesma determinei, o parâmetro de impedimentos legais pra viver uma paixão de erros. Mas quem é o ceu ou o inferno para me dizer onde está o errado, o proibido ou o imoral? Se isso não me cabe mais, não cabe a ninguém ou nada que eu veja ou sinta. Eu escolhi alimentar dois lobos que moram dentro de mim, até que o mais forte coma o mais fraco: seus ossos e sua alma. Um lobo quer uma vida calma, tranquila e feliz. O outro quer a vida intensa, profunda e feliz. Se ambos duelam por um sorriso, que vença não o mais sensato, mas o que mais forte no meu coração luta pela sobrevivência. Eu escolhi você pra ser o verso que me acalenta nos dias frios, gosto de escrever minha pele na sua pele, seu cheiro no meu cheiro, gosto de enrodilhar minha respiração em teu pescoço, até desfalecer o sopro do seu beijo. Gosto de saber que uma parte sua faz parte de mim e um pedaço meu te pertence também. Não pertencer no sentido de posse legal, dominação ou registro, mas no sentido de simpatia, afinidade e sintonia. Eu escolhi um embrulho bonito, fiz um origami, abri um vinho seco e te entreguei como somente sua, a palavra que determinou a maior "surpreendência" da última semana. Eu escolhi levantar um estandarte de anarquismos e vontades, pedi desculpas a toda essa minha loucura antes de sucumbir ao desejo de que Morpheus velasse meu sono essa noite. Eu escolhi, mesmo não sendo minha vontade, não te cobrar escolhas, sabendo que em seu universo coexistem outros mundos além do meu. Eu escolhi ser os olhos oblíquos e dissimulados do adultério de Machado de Assis pra que, todos os dias, sem canseira ou espera, eu me tornasse além dos olhos de ressaca o motivo do seu sorriso largo. Escolhi, mesmo dotada de lábios pequenos, ser o beijo que preenche seu desejo, farto de vontade. Escolhi ser ingênua na minha obscenidade, recitar poemas de corselete e salto alto verde, falar de afeto vestindo a desnuda pele. Te propus então um novo primeiro encontro, como se desconhecidos fossemos, pra que prove a primeira vez denovo, e sempre que desejar, assim seja. Marquei na sua agenda azamafada uma noite de insônia forçada, pra que seja o ouvido atento das minhas estórias, em meio "echoes", "pulse" e um incenso de sândalo ou mirra. Eu escolhi transformar todas as conspirações negativas em inspirações de bom dias diversos. Troquei um blues pelo death, escolhi Pearl Jam em uma imensidão de timbres pra provar do seu beijo desatinado. E não, não vou te prometer nada para amanhã. Já disse que cumpro o que falo. Eu escolhi te escolher, a próxima escolha é só sua.

Dayane Rufino

Vídeo: Minissérie Capitu - 1º beijo

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