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..."O mais importante é aprender a não se perder" p.15. Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas de Robert M. Pirsig

Viramundo no colo

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ela estava sentada ali no Café do Cine Belas Artes, com o Viramundo no colo, olhos lânguidos depois de um dia de trabalho, olhava a chuva que caia fina, quase imperceptível ao toque. Pediu um café expresso, do mais forte e denso que achou naquele cardápio de capa amarelada. Leu, releu, se distraiu com as pessoas que passavam ao lado. Se distraiu tanto que nem percebeu que ele estava ali, parado do seu lado. No peito carregava o quarteto de Liverpool, no pensamento carregava livros, fórmulas mágicas e canções, das mais belas que existem. Olhares, abraços e energias pairando no ar, sentaram e conversaram. Sobre o dia, sobre a vida, sobre as vidas ali sentadas e suas peculiaridades, sobre detalhes, limites e a falta deles, sobre a cor dos cabelos e como ela gostava dos cabelos cacheados. Ele não entendia, e talvez nunca vai entender, mas ela o admirava de uma maneira única e completa... E essas coisas nem sempre precisam ser entendidas... Passearam por mundos, pelo Japão, China, e a Alemanha de Hitler. Horas agradáveis, só pela companhia... Na tela, um filme cult. Ela recostou a cabeça em seus ombros, os cabelos caiam como cachoeira do alto de uma serra... As mãos dele passeavam como se mergulhassem e retornassem à superfície... Carinho e um beijo na testa, ela sorriu, mas não viu se ele retribuía o sorriso. Seus olhos estavam fechados, e lá no fundo o pensamento falava baixinho com ela mesma: Não vou abrir os olhos, não quero acordar... Não agora. E tinham os momentos em que não era necessário palavras, ou gestos, ou qualquer demonstração de presença viva. O silêncio e o caminhar lado a lado eram suficientes pra deixar no ar sentimento de cumplicidade e tranquilidade. Ela estava feliz, pisando em nuvens e cantarolando baixinho algumas músicas aleatórias que lhe surgiam na cabeça... Coisas que fazem as pessoas em estado de felicidade. O dia foi pra sempre, mas acabou cedo, com direito a uma boa noite de sonhos... Onde ela estava sentada ali no Café do Cine Belas Artes, com o Viramundo no colo e um anjo em seus pensamentos... Cantarolando baixinho...

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