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..."O mais importante é aprender a não se perder" p.15. Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas de Robert M. Pirsig

Fractais

segunda-feira, 22 de setembro de 2014


Entre o céu e o inferno, entre Midgard e Asgard, há mistérios que vão além da sabedoria dos deuses e da ignorância dos mortais. Entre fatos e teorias da ciência, entre universos paralelos e dimensões ainda não exploradas pelo homem, encontramos gotas microcósmicas que constroem as "certezas inexplicáveis". Amor, paixão ou encanto podem ser decifrados e demonstrados através de teóricos da psicanálise, estruturas químicas de substâncias imperceptíveis ou hormônios estudados pela biologia. O ser humano pode explicar teorias, mas os poetas podem alcançar a essência do universo num piscar de olhos. Um homem, poeta, em estado de embriaguez por paixão, é capaz de sentir de forma sinestésica os átomos de um suspiro e a satisfação de um abraço, de forma tão complexa, como as explicações da ciência a respeito dos efeitos ultrasensoriais causados pela endorfina e dopamina. A Teoria das Cordas é uma tentativa de unificar a Teoria da Relatividade com a Mecânica Quântica, além das quatro forças fundamentais. Muitos dizem ser a teoria mais complexa já desenvolvida por englobar cálculos matemáticos e fórmulas incompreensíveis. A referida teoria permite a existência de onze dimensões e alguns tantos universos paralelos à esse ínfimo mundo em que pré-existimos. A tese do Multiverso reafirma tudo o que penso quanto às energias que não vejo, mas são latentes à minha volta e me fazem crer que a vida não é só um acaso solto ao vento. O que quero explicar pode parecer simples ou pode soar complexo. Talvez tivesse sido mais fácil em um poema citando a beleza de Freyja ou uma metáfora com Valquírias e lobos dos cárpatos. Poderia ter composto uma música de estrofe infinita pra que tudo fosse memorizado e absorvido com mais praticidade. Mas o que quero dizer não pode ser mensurado com meia dúzia de palavras ou com um haikai ao estilo Leminski. O que eu quero dizer vai além de tudo isso e talvez esteja quase que à margem de explicações. Três dimensões no espaço, o tempo cortado em fatias na simetria do relógio geométrico... Tudo me faz pensar que a vida, além de não ser um acaso, é a receita de auto-sabotagem que nós mesmos criamos e alimentamos, como lobos em batalha dentro de um único coração. Tem coisas que podem passar despercebidas em um momento e no segundo seguinte, se tornarem alvo de atenção mundial. Isso pra mim funciona bem quando ligo pequenos pontos na escuridão do ceu para colecionar constelações, quando ando descalço para sentir que a terra é firme onde apoio meus pés e ainda posso voar enquanto sonho ou quando coloco a língua para fora da boca, querendo saber se a chuva é gelada como meu sabor favorito de sorvete ou quente como o gole da bebida vermelha. Eu gosto de texturas, de cores, sabores... Eu gosto de carregar a sensibilidade à flor da pele, gosto da intensidade e da força que existe nas menores e mais leves sensações. Eu gosto da palavra “sensitível” – que não existe, mas eu criei pra diferenciar do simples verbo “sentir” – vindo do latim “sentire”: experimentar uma sensação ou um sentimento quer por meio dos sentidos, quer por meio da razão. Se o meu sentir vem de sensitível e não de sentir, quer dizer que vai além de uma experimentação racional e sensorial. É fácil perceber a textura e a dança viva da fumaça de um incenso quando se está ouvindo música no escuro. É fácil saber o gosto de um beijo... Mas eu gosto é da cor que ele tem em cada boca, do cheiro que ele exala no ar e na capacidade com que ele faz as mãos ficarem imobilizadas, dançarem ou segurarem as maças do rosto como molduras de um quadro. "A existência de deus está diretamente e proporcionalmente ligada à simples crença nessa mesma existência" vazia e sem explicações palpáveis, assim como o amor. E tudo mais que passar pela minha cabeça quando eu prender meu olhar fixo aos seus olhos, fechá-los e continuar a ver seus olhos me observando é fruto do que eu criei ou é matéria sólida que se desmancha no ar. Tudo que eu queria dizer é isso. Que eu não sei dizer, mas de alguma forma existe, mesmo não sendo dito.

Dayane Rufino

Imagem: Fractais do universo.

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